segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Velho

Escrito há anos atras:

Um sujeito em seu quarto sozinho em meio aos pensamentos vagos que lhe vem à cabeça, triste e agoniado com o dia que tinha carregado das costas, olhava ao seu redor, reparava em seu quarto, os livros na estante, a janela, as paredes sujas, os sapatos ao pé da cama. Levantou-se em um pulo e ficou olhando para o nada.
- Será?
Vestiu-se e foi á sua. Em meio às caminhadas sem rumo refletia sobre o pensamento repentino que veio a sua mente como uma bala perdida que o atinge sem aviso, sem cerimônias. Ele pensou que vivia só o mundo! Mas como poderia viver só no mundo? Como que tal pensamento pode vir à mente do pobre garoto? Parecia impossível, mas ele ainda estava chocado com essa idéia que o perturbou por horas. Será que tudo que ele vivenciou era fruto de uma mente fértil ou que ele fosse um pensamento de outra pessoa que estava a lembrar de suas experiências?
- Senhor, poderia me informar que horas são? – disse um velhinho que estava sentado ao lado de seu trajeto.
O garoto olhou para o velhinho assustado, olhou-o por alguns segundos e respondeu com uma voz fraca e gaguejante:
- Será preciso que eu responda? – Falou o garoto convicto que estava falando consigo mesmo.
- Seria uma gentileza sua. – Comentou com delicadeza. – Mas por que a indagação?
- Você sabe as horas, olhou o relógio há cinco minutos atrás. Some cinco minutos e terá as horas – Disse dando as costas para o velhinho.
Logo após o diálogo continuou a sua caminhada reflexiva. Ele via os carros passando na rua movimentada e os sentia, parecia que ele estava segurando o volante e cada carro que estava por ali. Sentia o peso dos prédios ao seu redor, parava tempo em tempo achando que estava sonhando e dava leves tapas em seu próprio rosto para confirmar que estava acordado. E estava! Estava tão acordado que sentia dor com tudo que estava acontecendo. O pensamento de se o único do mundo estava lhe perturbando cada vez mais, o tempo se passava e ele estava aceitando a idéia de ser o único, acostumando a se ver em outras pessoas ou a achar que todos eram pensamentos dele materializados ou uma espécie de ilusão, mas o fato era que ele estava tomando isso tudo como verdade. Mas a pergunta de como que ele vivera só no mundo ainda existia, e cada vez mais dúvidas surgiam dele. Qual seria o mundo dito real se o mundo que ele conhecera era ilusório? Seria que todos eram realmente pensamentos dele, e que o velhinho era de fato ele mesmo? Ele não sabia a resposta, claro que não sabia! Ainda se via a dúvida em seu olhar perdido. Estava ficando triste com isso, à medida que a certeza de ser o único do mundo se fortalecia, o sentimento de ser um egoísta crescia e o machucava. Estava muito triste, Teria ele matado outros existentes? Não tinha como saber, mas o sentimento crescia em si, sentia que tinha o controle do mundo que conhecia.
Ele lembrou que sempre foi um bom menino, um pouco tímido, mas não impedia que os outros gostassem dele. Sempre partilhava tudo com seus amigos, discutiam idéias solidárias e como poderia mudar o mundo se todos fossem solidários, ou pelo menos amigáveis, e se viu em uma contradição; ele nunca foi egoísta, sempre partilhava tudo. Como que o mundo que ele imaginava era diferente do que ele realmente era, ou do que ele achava que era? Foi um bom argumento que ele se deu para voltar a pensar que ele vivia em meio a outras pessoas e achou que estava ficando doente, que deveria ter bebido muito naquela semana que seus pais estavam viajando.
Pouco a pouco foi voltando a si, assim ele o achava. Recuperando desse pensamento de ser o único do mundo, pegou o caminho para casa, atravessava as ruas e não mais sentia que os carros eram controlados por ele e aquela dor que sentia nas costas foi sumindo pouco a pouco. Olhava para as outras pessoas na praça e ria, como ele poderia pensar que era único com aquela diversidade de personalidade que se encontrava em uma praça? Imagine o mundo. Quantas personalidades diferentes haveria no mundo? Imagine o universo que existe em cada um? Não. Ele realmente não poderia ser o único, o mundo seria vazio para ele, não haveria alegria e tudo seria uma mesma coisa, produto de uma mesma mente, seria tudo um só padrão. Claro! As pessoas existem! Não são imaginações, se o fosse ele não veria a diversidade de cultura de um país para outro, não haveria idiomas diferentes e se houvessem ele saberia todos. Está aí a prova de que ele vive em companhia de outros, como isso não tinha vindo antes aos seus pensamentos?
- Por favor, as horas?
Era o velhinho.
Mas por que o velhinho se encontrava novamente no caminho do jovem? Teria ele uma razão especial para cruzar com o senhor? Quem seria este velho homem que insiste em perguntar as horas logo a um garoto com o olhar perdido, que o tratou mal uma vez?
Todas as certezas pareciam sumir em uma fração de segundo se tornando incertezas. Sempre incertezas. Incerteza sobre a própria identidade do garoto, sobre o velho, porque ele insistia nas horas, sobre as dores que sentia, sobre aquele sentimento, ainda um pouco guardado, de que saberia o final de toda ação que acontecia ao seu redor. Com exceção do velho; o velho parecia único, como uma pedra de gelo fria e dura em um deserto escaldante, que não derrete. Um ser desconhecido para o sentimento do garoto, que naquela praça, que passaria despercebido do garoto se ele não viesse importuná-lo.
Novamente assustado, mas não como da última vez, o garoto olhou para o senhor, em uma mistura de medo e confiança, e o encarou. O velho por sua vez não deixou nada a perder e retribuiu o olhar com bem mais vigor que o menino. Segundos se passaram até que a primeira palavra fosse dita:
- É claro que eu sei as horas. – Disse o velho.
O suor saia de toas as partes do corpo do jovem. Ele estava com muito medo, um medo insuportável que o deixava sem reação e se limitava a suar.
- Sei, sei sim. Vivi muito, meu garoto. Conheço as horas como se fossem minhas filhas e nunca me perderei delas. Mas o que você não entendeu é que a pergunta era pra você. Será que está sendo difícil de aceitar? Agora garoto, me responda o que eu quero.
- São quatro e meia, senhor. E tenho que voltar para casa. Poderei ir?
- Sou quem para o impedir? Apenas quis que me confirmasse as horas.
- Com licença. – E saiu.

3 comentários:

Monica Veridiane disse...

é um erro que cometemos, em algum momento da vida, querer carregar o mundo nas coisas....

os prolemas são muitos!!!

cada qual com os seus(eles bastam!), mas sem deixar de ajudar a quem precisar!!!

Não queira carregar o mundo nas costas....Vc não está só!

Anônimo disse...

Porra Vini....muito interessante...as vezes me perguntei tambbém algo parecido...se o mundo soh existia para mim....como se fosse eu o centro do mundo...meio egocentrico mas, seu texto me lembro isto. Posso fazer umas criticas? tipo...tem uns erros de digitação....e as vezes eh meio confuso....acho q eh soh.

Soraya Magalhães Moura disse...

Que texto ótimo... ADOREI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!