Um texto em resposta ao texto da amiga Luisa¹, recém divorciada, que versou sobre a sua volta ao mundo das paqueras. Algumas de suas palavras eram:
Esses dias vivi algo muito curioso que me trouxe
indeléveis ensinamentos. Descobri como sou ingênua. Tenho medo que as porradas
da vida não me enrijeçam o couro a ponto de me transformar em alguém
extremamente desconfiado. Confio demais, acredito demais, sou sincera demais.
Isto, sem falsa modéstia, me eleva ao status de ser em extinção.
Que triste ser diferente só por seguir o coração...
O texto segue abaixo:
Cara Luisa,
Antes de tudo mais, lembre-se que eu não a conheço! Você é
para mim uma vaga lembrança de uma menina loira de olhos verdes no pátio do colégio!
E agora você é uma menina legal que conheci nos posts de Fred que não tem
medo da panela de pressão!
E me parece que não tem medo de
ser você! Melhor ainda, não tem medo da vida! Ainda na flor da mocidade toma
uma decisão que muitos coroas têm medo de tomar, e então se casa!
A vida é uma coisa interessante,
entretanto muito sutil. A sutilidade da vida está no Tempo. Temos um tempo para
fazermos a nossa história, independentemente de religião ou da crença (ou não)
da vida após a morte. Temos que no final dessa vida criar uma história para que
não termos vindo aqui em vão, seja no campo afetivo, profissional, familiar
alguém há de sentir a nossa falta!
Repito: a sutilidade da vida está
no tempo! Palavras de um professor aconselhando seu aluno: “Tome você as
decisões de sua vida, não deixe que a vida as tome por você, porque se a vida
tomar as decisões por você, ela será cruel” (mudei o vocabulário para não soar
chulo). E concordo com essas palavras. Deixei a vida me levar, ainda a deixo. E
só aprendo com os erros! Quase tudo que eu faço certo, é porque eu estou
fazendo ao menos pela segunda vez. Às vezes, nunca dão certo. Mas tento seguir
adiante, talvez com outro erro! E qual será o porquê disso tudo? A resposta é
que eu sigo minhas vontades! Sigo os meus instintos, ou então, como dizem os
mais românticos, sigo o meu coração! Acho que devemos seguir aquela voz que
martela ao nosso ouvido mesmo quando sabemos que estamos arriscando, indo longe
demais. Sou a favor de que se sigam essas vontades, desejos, instintos, sonhos,
coração ou qualquer outro nome que se dê. Às vezes é uma boa opção fechar os
seus olhos à racionalidade e deixar ser guiado pelas emoções e sua lógica
leviana. Caso contrário, não haveria graça! Ter picos de emoção é uma das
belezas da vida, talvez a mais bela. A palpitação de um apaixonado ao falar com
sua amada, palavras trêmulas em sua boca, o rubor em seu rosto. Ou uma tristeza
violenta de uma desilusão! Não existiriam situações como esta se formos guiados
pela racionalidade! Tanto a felicidade como a tristeza são sentimentos nobres e
que devemos passar. A Felicidade é traiçoeira, às vezes nos colocam em maus
bocados. A tristeza, conservadora, ríspida! E assim seguimos os rumos de nossas
vidas ora felizes e irresponsáveis, ora tristes e amargos para pagar o preço da
felicidade que voltará a reinar em breve.
Hei de concordar que o mundo está
ao avesso. Na verdade, neste âmbito amoroso, ao qual proponho dissertar, o
mundo sempre esteve ao avesso! Se é que eu posso chamar isso de amoroso! As
relações giram em torno do prazer. Do prazer pessoal, não o prazer a dois. O
seu prazer é o que está valendo, o seu gozo! Pouco lhe importa o prazer alheio!
É assim que o mundo está! Não se
vê mais relação a dois! As ‘relações’, na maioria dos casos, é a um. De si para
consigo. É uma espécie de masturbação em que o um é apenas o estímulo sexual do
outro. E o mais engraçado, e assustador,
é que nenhum dos lados se sente usados ou se fere com esse tipo de ‘relação’. O
que é incrível! Sinto-me alheio a esse mundo! Já tive experiências, talvez não
tão alto-nível, e me levei a questionar sobre esse prazer! É um estranho
prazer! Em momentos de festa, agitação, soa como parte da festa e da
agitação... Mas a situação se repete e repete, e o prazer não é mais tão
prazeroso. É questionável! Mas mesmo assim você continua repetindo, e quando se
vê já está fazendo parte daquele jogo do qual você falou em seu texto: Dou ou
não notícias? Mando ou não mensagens! E o estranho é que não é guiado por
aquele frio na barriga! É um negócio estranho e sem nexo. É guiado pelo outro,
não por si. É prazeroso e vazio!
Um dos sentimentos mais intensos
que tive foi para com uma menina que nem cheguei a ficar. Ela jogou, eu não! Eu
me joguei! Entreguei-me aos meus sentimentos e minhas emoções e deixei que os
fluíssem. Talvez eu perdi a oportunidade que tive e ela me deu game over no jogo.
Mas o que eu senti e o desenrolar disso tudo foi um prazer que o sexual puro
não é comparável. O prazer sexual puro é uma masturbação, seja sozinho ou a
dois, ou a três, quatro... Orgias não passam de masturbação coletiva!
É bonito de sua parte seguir a
sua essência, a sua vontade não importando as consequências que virão! Algumas
consequências, talvez a maioria delas, irão lhe fazer sofrer. Entretanto, o
sofrimento também é um sentimento nobre e neste contexto irá lhe ajudar a se
autoconhecer um pouco mais, e a próxima vez será menos sofrido, pois você já
sabe com que pés andam a sua entrega praquilo que acredita e caso algo dê
errado, você terá conhecimento profundo de si mesma para poder se desligar
daquilo que lhe causaria sofrimento. Afinal, você fez a coisa certa, se deu
errado é apenas uma dinâmica da vida! E esse processo de se entregar é algo
mais amplo que apenas às relações interpessoais, é algo que devemos fazer com
aquilo que acreditamos. No emprego, no rumo a se dar na vida, numa escolha difícil!
É preciso se entregar por inteiro. “Ars totum requirit hominem!” (A arte requer
o homem inteiro) e a arte de viver só é plena quando você se entrega de corpo e
alma àquilo que se propõe a fazer.
Não perca tempo neste jogo, seja
fiel a si não importando as consequências! E tenha fé que existem pessoas boas
nesse mundo! E quando você as encontra, é uma imensa felicidade, pois faz-nos
ver que não é apenas uma esperança vazia e nem uma perca de tempo agir como
deveríamos todos agir, por mais que sejamos quase os únicos. Não tenha medo! Eu
sei que não tem...
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NOTA:
¹ O nomes aqui usados são fictícios para preservar a identidade dos mesmos.